O ENGENHEIRO METAFÍSICO.
O ENGENHEIRO METAFÍSICO (ou PARA LER E ESCREVER O MUNDO)
Texto 14:
Décimo quarto ano de exílio. Cannes, França. 20 de Agosto de 1981.
Vapores do mar,
Ondas do eterno presente,
As pupilas dos meus olhos
A vislumbrar ilhas ao longe
Na imensidão do oceano tranqüilo...
Sigamos depressa na embriaguez do momento...
Tudo é irreal: O cais, o mar,
Tantas vidas que eu ignoro
E que também me ignoram...
Passo
Por casas, ruas, chaminés,
Interiores que não adivinho...
Tenho desejos lívidos
E sofro de tédio
De ser apenas Eu e mais nada...
Que paisagens vivi
E que paisagens não vivi?
Mares, serras, planícies ao longe...
Dias de sol e chuva monótonos
Como todos os dias...
Ruas cheias de vultos
Que marcham para o trabalho,
Que vão e vem...
Mendigos peregrinando nas ruas
Ou descansando
A sombra das árvores
Ou num canto qualquer nas estradas
Que levam pra nada...
E eu com meus passos
Ora firmes, ora vacilantes
Indo não sabe para onde...
Indo sem consciência do que sinto,
Sem consciência do sentir
Como um suicida que se acovarda
E vacila...
E tudo passa por mim:
A dor, a morte,
A água a rir, sonhos, desolações,
Cidades, brumas, as margens dos rios,
O mar ermo e suas ondas e seus segredos
E as asperezas dos rochedos
E o negrume da noite...
Fria é a consciência dos meus nervos,
A consciência de não estar em lugar algum,
De não conseguir captar a memória das cidades,
Dos campos fugitivos
Por onde cruzam os comboios
E as sociedades imaginadas
Por uma utopia
Sempre encoberta por densa neblina
Ou pela fumaça das chaminés das fábricas
Ao longo das periferias por onde passo...
Ah! Eu estou cansado...
Eu estou cansado de tudo...
Dos mares súbitos
E de tudo que eu tenho imaginado,
Do tédio das viagens,
Dos minutos que pulsam minuciosamente
Dentro de mim,
Da indecisão sem fim
Do meu corpo inerte...
Mas sigo
Com a cabeça recostada
No vidro que treme,
Angustiado do tédio que vai ao leme
Por entre árvores, casas e pessoas
Que passam tão rápido
Como se não existissem...
E eu viajo somente pelos meus sentidos
E me dói
A monotonia desta viagem...
Décimo quarto ano de exílio. Cannes, França. 20 de Agosto de 1981.
Vapores do mar,
Ondas do eterno presente,
As pupilas dos meus olhos
A vislumbrar ilhas ao longe
Na imensidão do oceano tranqüilo...
Sigamos depressa na embriaguez do momento...
Tudo é irreal: O cais, o mar,
Tantas vidas que eu ignoro
E que também me ignoram...
Passo
Por casas, ruas, chaminés,
Interiores que não adivinho...
Tenho desejos lívidos
E sofro de tédio
De ser apenas Eu e mais nada...
Que paisagens vivi
E que paisagens não vivi?
Mares, serras, planícies ao longe...
Dias de sol e chuva monótonos
Como todos os dias...
Ruas cheias de vultos
Que marcham para o trabalho,
Que vão e vem...
Mendigos peregrinando nas ruas
Ou descansando
A sombra das árvores
Ou num canto qualquer nas estradas
Que levam pra nada...
E eu com meus passos
Ora firmes, ora vacilantes
Indo não sabe para onde...
Indo sem consciência do que sinto,
Sem consciência do sentir
Como um suicida que se acovarda
E vacila...
E tudo passa por mim:
A dor, a morte,
A água a rir, sonhos, desolações,
Cidades, brumas, as margens dos rios,
O mar ermo e suas ondas e seus segredos
E as asperezas dos rochedos
E o negrume da noite...
Fria é a consciência dos meus nervos,
A consciência de não estar em lugar algum,
De não conseguir captar a memória das cidades,
Dos campos fugitivos
Por onde cruzam os comboios
E as sociedades imaginadas
Por uma utopia
Sempre encoberta por densa neblina
Ou pela fumaça das chaminés das fábricas
Ao longo das periferias por onde passo...
Ah! Eu estou cansado...
Eu estou cansado de tudo...
Dos mares súbitos
E de tudo que eu tenho imaginado,
Do tédio das viagens,
Dos minutos que pulsam minuciosamente
Dentro de mim,
Da indecisão sem fim
Do meu corpo inerte...
Mas sigo
Com a cabeça recostada
No vidro que treme,
Angustiado do tédio que vai ao leme
Por entre árvores, casas e pessoas
Que passam tão rápido
Como se não existissem...
E eu viajo somente pelos meus sentidos
E me dói
A monotonia desta viagem...
Gosto de como você escreve...é tão claro e tão poético...com substância vivencial profunda.
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