RELATO DE DOMINGO.




Um homem caído no chão
Anônimo como muitos outros
Homens
Sem nome
Apenas um homem

A cidade ferve
A polícia chega
No balcão homens bebem
Esta matéria não saiu na revista Veja

Bebo mais um copo de cerveja
Observo a rua
A sirene da Guarda Municipal soa
Ao levar o homem que estava caído para o hospital
Esta notícia não saiu no jornal
E tudo prossegue normal
Nesta tarde

A chuva fina e um calor de trinta e tantos graus,
Churrasco Grego a Um Real
Com suco grátis
Motoristas conversam no ponto de táxi 
Passa um ônibus elétrico
Vermelho e branco
Mas não estamos em Londres
Estamos
Talvez
Muito longe
Da felicidade
A porta da igreja fechada
As fachadas todas pichadas
No centro desta cidade
Saudades dos tempos antigos
Em que os prédios eram bonitos
Na Av. São João

No balcão os homens contam suas histórias
Suas mentiras
A vida é mesmo esta miséria
Cada um com sua sina
Dia e noite
Noite e dia

Um cão com o seu dono
Adentra a porta
O homem compra uma masso de cigarro
E vai-se embora
A angústia estampada em cada rosto
Alguns estão
Talvez
No fundo do poço
Mas passam ainda
Trôpegos 
Alguns acertam a conta e se vai 
Não olham pra trás
Prosseguem suas vidas
Nada mais

O balconista passa um pano encardido
Sobre a mesa
Do outro lado um cabeludo bebe cerveja
Alguns são solitários
Com certeza 
Personagens
Cada um com suas ilusões
E desilusões
Os que vêm e os que se vão
Neste bar da Av. São João.



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