RASCUNHOS PARA NADA (Troca)
Um caco quebrado
São cacos de caco
Fragmentos dispersos
Coração despedaçado
Eu não me reconheço mais no espelho
Imagem da minha imagem
Rompi o invólucro
Lasca por lasca
Não sobrou nem mesmo
Um pedaço da casca
Agora vago
Divago
Rasgo página por página
Nenhuma lágrima perdida
Ao acaso...
(Gabriel Arcanjo)
Em resposta ao Rascunho Para Nada. (Mychelle Aguinel)
IMAGEM VIVA
Essa imagem foi proibida
Em diversos lugares
Por inversos estados
Essa imagem foi proibida
Nas praças
Nos bares
Nos prostíbulos
Nas casas de Angola
e também nas comarcas de todos os santos
Viva a nossa imagem!
Viva também a imagem televisiva!
Viva a pocilga da nossa vida vendida!
Martirizada pelo conteúdo programático
da nossa imagem desconhecida.
Viva!
Viva!
Viva!
Mais uma vez...
Viva!
Porque a arte não tem valor
E o valor não está na arte
Está na porra
do ministro
do publicitário
do capitalista
e do voluntário
que desconhece a imagem
e apenas imagina.
Resposta (Gabriel Arcanjo)
A imagem
Não é a coisa em si
Ela não denota
Nem o início
E nem o fim
Ela só é intermediária
Entre o que Sou
E o que Eu penso de mim
Toda existência chega ao fim
Mas ainda fica a essência
O que a coisa é em si
De nada vale a imagem
Sem ação
Ela não é um objeto
Tal qual a televisão
Ela está entre a verdade
E o que chamamos de ilusão
Ela não é a realidade
Mas a sua contradição
O valor não está na arte
Mas na imaginação...
Resposta (Mychelle Aguinel)
BUSCA
Cadê tu?
oh essência!
Impulso da vida
Flor de acácia desabrochada
nos mares da consciência
Sorrateira
Invade as profundezas
Do oceano de palmas
Exalando na superfície
Um aroma fresco e pueril
Cadê tu?
Oh essência!
Escondida nos escombros do Eu
isolada nas respostas do ser
Submersa nas linhas e entrelinhas
Dessa reflexão
Cadê tu?
Oh essência!
Arrisco um risco
Um músculo
Uma palavra
Um som no ar
Para desvendar, desnudar, desapropriar
Oh! ti essência minha
Simples, singela, bela
vívida essência minha
Penetro no espaço com medo
Mas prometo regar-te essência
No engenho
Da Imagem Viva.
Resposta (Gabriel Arcanjo)
Não falo
Da minha essência
Mas da essência de tudo aquilo o que há
O universo infinito
As profundezas do mar
Aquilo que não tem nome
As coisas que me consomem
E eu não sei explicar...
A minha essência?
Onde é que ela está?
Imagem viva
De uma ferida
constantemente a sangrar...
Estará
Escondido em mim
Aquilo que não tem fim?
Você arrisca um risco
E eu estou a beira do abismo
Mal posso respirar
Não sei se devo voltar
Ou pular...
Também eu quero
Penetrar no espaço sem medo
Mas sou covarde demais
Pra desvendar seus segredos...
O teu engenho
O teu discurso
Me parecem
Muito profundos
E eu estou submerso
Na perplexidade
Do mundo...
E ainda volto a perguntar-me
Sem espera da resposta
A minha essência
Onde é que ela está?
Imagem viva
De uma ferida
Constantemente a sangrar...
Resposta (Mychelle Aguinel)
DISSOCIAÇÃO
A figura dessa carta está sentada sobre a enorme flor do vazio
Segurando a pétala da transformação
Aquela espada que cobre a ilusão
Como uma serpente que rejuvenesce trocando de pele
Há duas mãos que tecem essas palavras
Uma que repousa no colo aberta e receptiva
E a outra que fere a margem desfalecida
Na minha face há silêncio e repouso
Qualquer dor e tristeza que a minha casa chega
Será reconfortada e para qualquer dificuldade
Peço que adormeço fora desta estada
Pois o tempo é além...
E até quando desistimos e nos convencemos
Que não nada mais que possa ser feito
O abismo é preenchido com cores e luzes daquele
Que agora é iluminada
Nesse momento você enxerga aquilo que não percebeu a vida inteira
E a transformação chega com a morte
No seu devido momento
E também como a morte ela transforma você
De uma dimensão a outra
Esperemos...
Enquanto isso deixamos a ferida sangrar
O rio da nossa vida correr e vazar
Sem se quer dimensionarmos
Sem se quer ousarmos
Mergulhar.
Resposta: (Gabriel Arcanjo)
Você é mesmo para se admirar
O que escreve
O que sabe falar...
Fico até mesmo a esperar
O que você vai me dizer...
Fico tentando imaginar
Da onde vem tanto saber...
Fico até mesmo com medo
De não ter palavras
Para te responder
O meu vocabulário é escasso
Como você pode ver
Tudo o que penso e tento escrever
É apenas uma reflexão acerca do Ser
Fico
Matutando
Comigo
O que é
Mesmo
Que Eu
Digo
Para te convencer
Que
O que
Eu sinto
É
O que
Eu sinto
Não sei se falo a verdade
Ou se minto
Se é intuição
Ou instinto...
Você é uma pessoa diferente
Tuas palavras me comovem
Mas eu não consigo perceber
Ao certo o que você sente...
Tuas palavras
São seu momento presente?
O presente
Escoa constantemente...
Devo alertar
Que é um Eu-poético falando:
O relógio da parede
É azul ou branco?
É a parede que é azul
E o relógio branco?
Ou é o relógio que é azul
E a parede branca?
Sei lá! Não sei...
Em mim só crescem ervas daninhas,
E não precisam ser regadas,
Crescem na aridez que há em mim...
E não florescem, apenas crescem volumosas
Enquanto eu fecho os olhos e abstraio...
E o que é a palavra escrita?
Estas palavras tremulas que rascunho
Enquanto sou chacoalhado
Nesta maquinaria que me transporta
Dia-a-dia, noite-a-noite...
Que me leva e me trás
E me trás e me leva
Assim continuamente
Enquanto eu inconsciente de mim mesmo
Escrevo em busca desta espécie de lucidez
Que eu não sei se existe?
E quanto mais eu questiono, examino,
Observo, analiso, faço contas,
Mais estúpido fico...
E fico imaginando questões relativas
Sobre a transição dos mundos,
Devaneio desvairado do nada...
Empalideço e devoro as palavras cruas,
Mantendo o meu eixo firme
Diante da rotação da Terra,
Tão imprecisa quanto às horas do relógio
Para o meu corpo
Que não respeita as leis da gravidade.
E não sinto vertigem
Ao sol do meio-dia.
Tenho fome e como
Um Prato Feito,
Bebo uma cerveja, por que não?
E penso na organização econômica do mundo...
Dos que se saciam e dos que tem fome...
Mas não penso na esperança dos outros
E nem penso na minha própria esperança,
Volto apenas às funções
Que voluntariamente me imponho...
Sigo em frente.
Limpo o ralo do banheiro
De um emaranhado de fios de cabelo...
Borrifo desinfetante nas paredes,
Lavo as mãos com água e sabão de coco...
E lavo o rosto petrificado pela insônia...
E choro... Um choro imperceptível e sem lágrimas...
Um não-choro.
Revejo a frase do meu próprio obituário.
Pressinto a garoa lá fora.
Um novo dia se impõe...
Retiro as pilhas do relógio,
Coloco balas no revolver,
Resolvo pintar a parede de vermelho...
É inútil saber as horas...
Levanto a tampa da privada...
Mijo... Dou descarga... Não há descarga...
Leio as Manchetes dos jornais...
Os homens riem um riso histérico...
E tudo é muito estranho...
Desperto ao primeiro apito do trem
E de novo adormeço...
As portas se fecham e tudo treme.
Uma voz ressoa dos meus sonhos:
“Próxima estação Presidente Altino”.
Eu fico zonzo e me levanto,
Ouço vozes que vem de longe
E o barulho das engrenagens...
- Mas o relógio da parede
Era azul ou branco?
(resposta de
Mychelle Aguinel)
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Onomatopéias desvairadas
Perda involuntária da alquimia
Tum-Tum
Tum-Tum
Tum-Tum
Ainda canto tropicália
Revejo os rascunhos...
Amassados desbotados com o tempo
O mesmo tempo que o relógio marca
Aquele relógio que pode ser da cor que eu quiser que ele seja
Exclamações, reticências, interrogações, ponto final!
Tudo bem
Tudo certo
Tudo em luz
Nas duas primeiras décadas do século XX
Os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável
Para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia
E a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo
O que dizer de hoje?
Ainda surgem movimentos que interferem
De maneira fantasiosa na realidade
Hahaha!!! Que bom rir
Eu já não me pergunto se "Estão todos aí"
Porque o que importa agora
O que prevalece
É que eu estou aqui...
Aqui em mim.
Já afirmei que o espectador é um animal agonizante
Mas hoje sou espectador de mim
É uma questão de percepção
Da própria percepção no e do espaço
Da vivência!
Se o relógio é azul ou não
Se a parede vai ser pintada de vermelho ou amarelo
O que importa?
O difícil é manter o passo firme
Limpar os restos de comida na pia
Desinfetar as paredes sim. Mas também o chão.
A cama... impregnada com uma urina velha adormecida
A face! encarquilhada com velhos conceitos padrões idéias
Que já não servem mais
Porque o relógio...
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Enquanto o pulso da vida nos permite
É tolice olhar o obituário
É burrice não ser
É vedado continuar ouvindo o gotejar do chuveiro
E não se lavar
Desperdiçar a fonte que há em nós
Com licença vou fechar o meu chuveiro
Que já está me irritando
E a conta sou eu mesma que
Vou pagar!
resposta (Gabriel Arcanjo)
Tudo bem...
Tudo certo...
Ainda há luz no fim do túnel.
Ainda há exclamações
De onomatopéias desvairadas,
Reticências
De uma involuntária alquimia
Que se perde...
Interrogações? Por que não?
E pontos finais
Encerrando frases
Tantas vezes repetidas.
O que me importa
As duas primeiras décadas do século XX?
Adentrei na Nova Era...
Os estudos psicanalíticos de Freud
Estão ultrapassados
E as incertezas políticas retornaram,
E não vejo em volta de mim
Nenhum clima favorável,
Mas ainda vivo
Apenas para ser
Uma transição
Entre o real e o imaginário.
Ria a vontade!
Nada melhor que a gargalhada!
Sim... Você está aí
E eu estou aqui
E estamos todos no mundo
E o mundo é um só,
Isto é o que prevalece,
Eu aqui em mim
E você em você mesma,
Todos nós
Atores e espectadores,
Figurantes
De um mundo de incertezas.
Não mais um animal agonizante...
O que escrevi
Foi apenas um sonho ou pesadelo,
Descrevi-o da forma que me veio,
Eu sou assim de carne e osso
Ao contrário do reflexo do espelho.
O tique taque do relógio
Não me incomoda mais,
Há muito tempo me desvencilhei de tudo,
A percepção do espaço
É algo tão particular
Assim como a minha maneira de ver o mundo.
É certo que ainda escrevo poemas
E pinto quadros
Com matéria densa
E cores ácidas.
Manter o passo firme
E limpar os restos de comida na pia
São atos tão cotidianos,
Nada ver com conceitos,
Padrões, idéias pré-concebidas.
Ora! Não vamos nos levar assim tão a sério!
A vida não pode
Ser pesada ou medida,
A vida é apenas a vida,
O espaço
É onde o meu corpo habita.
Perda involuntária da alquimia
Tum-Tum
Tum-Tum
Tum-Tum
Ainda canto tropicália
Revejo os rascunhos...
Amassados desbotados com o tempo
O mesmo tempo que o relógio marca
Aquele relógio que pode ser da cor que eu quiser que ele seja
Exclamações, reticências, interrogações, ponto final!
Tudo bem
Tudo certo
Tudo em luz
Nas duas primeiras décadas do século XX
Os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável
Para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia
E a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo
O que dizer de hoje?
Ainda surgem movimentos que interferem
De maneira fantasiosa na realidade
Hahaha!!! Que bom rir
Eu já não me pergunto se "Estão todos aí"
Porque o que importa agora
O que prevalece
É que eu estou aqui...
Aqui em mim.
Já afirmei que o espectador é um animal agonizante
Mas hoje sou espectador de mim
É uma questão de percepção
Da própria percepção no e do espaço
Da vivência!
Se o relógio é azul ou não
Se a parede vai ser pintada de vermelho ou amarelo
O que importa?
O difícil é manter o passo firme
Limpar os restos de comida na pia
Desinfetar as paredes sim. Mas também o chão.
A cama... impregnada com uma urina velha adormecida
A face! encarquilhada com velhos conceitos padrões idéias
Que já não servem mais
Porque o relógio...
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac
Enquanto o pulso da vida nos permite
É tolice olhar o obituário
É burrice não ser
É vedado continuar ouvindo o gotejar do chuveiro
E não se lavar
Desperdiçar a fonte que há em nós
Com licença vou fechar o meu chuveiro
Que já está me irritando
E a conta sou eu mesma que
Vou pagar!
resposta (Gabriel Arcanjo)
Tudo bem...
Tudo certo...
Ainda há luz no fim do túnel.
Ainda há exclamações
De onomatopéias desvairadas,
Reticências
De uma involuntária alquimia
Que se perde...
Interrogações? Por que não?
E pontos finais
Encerrando frases
Tantas vezes repetidas.
O que me importa
As duas primeiras décadas do século XX?
Adentrei na Nova Era...
Os estudos psicanalíticos de Freud
Estão ultrapassados
E as incertezas políticas retornaram,
E não vejo em volta de mim
Nenhum clima favorável,
Mas ainda vivo
Apenas para ser
Uma transição
Entre o real e o imaginário.
Ria a vontade!
Nada melhor que a gargalhada!
Sim... Você está aí
E eu estou aqui
E estamos todos no mundo
E o mundo é um só,
Isto é o que prevalece,
Eu aqui em mim
E você em você mesma,
Todos nós
Atores e espectadores,
Figurantes
De um mundo de incertezas.
Não mais um animal agonizante...
O que escrevi
Foi apenas um sonho ou pesadelo,
Descrevi-o da forma que me veio,
Eu sou assim de carne e osso
Ao contrário do reflexo do espelho.
O tique taque do relógio
Não me incomoda mais,
Há muito tempo me desvencilhei de tudo,
A percepção do espaço
É algo tão particular
Assim como a minha maneira de ver o mundo.
É certo que ainda escrevo poemas
E pinto quadros
Com matéria densa
E cores ácidas.
Manter o passo firme
E limpar os restos de comida na pia
São atos tão cotidianos,
Nada ver com conceitos,
Padrões, idéias pré-concebidas.
Ora! Não vamos nos levar assim tão a sério!
A vida não pode
Ser pesada ou medida,
A vida é apenas a vida,
O espaço
É onde o meu corpo habita.
Plágio...
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